Instrução – Os dois mistérios

Editado em 02/02/2023.

A Procissão de Velas e Missa de hoje serão realizados às 19:30 horas, na Capela do Colégio Santo Tomás de Aquino.


Meditando bem o Evangelho desta festa, encontramos nele a expressão nítida de três grandes mistérios, que se unem num único, que a Igreja chama a “apresentação de Jesus no templo” , mas que no fundo inclui tudo o que há de mais tocante e sublime na religião.

De fato, temos diante de nós: um Homem-Deus oferecido a Deus; o Soberano Sacerdote da nova aliança num estado de vítima; o Redentor do mundo resgatado; uma virgem purificada; e enfim: uma mãe imolando o seu filho. Quantos prodígios na ordem da graça!

Entre estes grandes mistérios, escolhamos os dois primeiros para meditá-los: Estes dois mistérios são:
     1 – A apresentação de Jesus no templo
     2 – A purificação da Mãe de Jesus

1 – A APRESENTAÇÃO DE JESUS

Nada mais simples, em aparência, do que a narração do Evangelho, mas ,nada mais sublime na realidade: Maria indo ao templo para ser purificada e oferecer a Deus o seu Filho querido.

A narração evangélica é de uma simplicidade encantadora.

Para compreendê-la bem, é mister lembrar aqui duas leis dadas outrora por Deus a Moisés, e que São Lucas menciona.

A primeira é a do Levítico: “A mulher que der à luz um filho, abster-se-á de aparecer no templo, por 40 dias. 

No quadragésimo dia, apresentará ao sacrifício um cordeiro de um ano e uma rola, como oferta pelo pecado. Se não puder ser um cordeiro, oferecerá duas rolas. O sacrificador orará por ela, e assim ficará purificada” (Levit. XII) .

A segunda lei é a do Êxodo, que diz : “Os primogênitos lhe devem ser consagrados, e resgatados com 5 ciclos de prata” (Exod. XIII ).

Conhecendo estas duas leis compreende-se a narração evangélica. Limita-se a patentear que Maria se submeteu à purificação, e que Jesus, por Maria, sujeitou-se à apresentação, como sendo a coisa mais natural e comum. De fato, nada há mais natural ; porém, é ordinário do mesmo modo, como Maria deu à luz o seu filho Jesus, o envolveu de paninhos e o deitou no presépio.

Tanto no fato, como no modo de contá-lo, é a continuação dos acontecimentos ordinários da vida humana, em Jesus e Maria.

Querendo, entretanto, que estes mesmos acontecimentos, tão comuns, se tornem mais extraordinários possível, basta considerar que este menino, que se faz apresentar e resgatar pela sua mãe é o Filho de Deus, o Santo dos santos, o Redentor do mundo ; e que esta mãe, que se faz purificar, é a Virgem das virgens, a Rainha dos anjos, a Mãe de Deus.

As duas leis citadas diziam respeito a todas as mães, menos à Mãe de Deus, e a todos os primogênitos, menos ao Menino-Deus.

Evidentemente, aquela que do Espírito Santo concebera e dera à luz o Santo dos Santos, não tinha que purificar-se de mancha nenhuma; e aquele que nascera para remir o mundo, não tinha precisão de resgate.

2 – PURIFICAÇÃO DE MARIA

Que prodígio de discrição, de submissão e de humildade se nos apresenta na pessoa da Mãe de Jesus.

Após todas as honras que recebera do Anjo, de Isabel, dos pastores e dos Magos, após o hino cantado por ela mesma, das suas grandezas; da vista profética das homenagens que havia de receber através dos séculos, ela, a mulher bendita entre todas as mulheres, submete-se à humilhação comum das outras mulheres! É simplesmente espantoso!

Por que não rediz ela nesse momento que Deus fez nela grandes cousas; que era Bem-aventurada; bendita como era bendito o fruto de seu seio?

Porque Maria não exclama que veio trazer ao mundo a purificação, longe de procurá-la?

Que veio apresentar o resgate do mundo, longe de resgatar o seu filho?

Ao primeiro aspecto parece que o seu silêncio prejudica a divindade de Jesus Cristo ; pois fazendo-o passar como filho do homem, ela parece desmentir tantos milagres e profecias, que o proclamaram o Filho de Deus! Assim teria raciocinado qualquer outra criatura, que não fosse Maria, mas aqui tudo é divino. E o que é divino é sempre simples e sem ostentação.

Nada, pois, devemos esperar de Maria senão um proceder simples, como convém a sua humildade, em tudo o que diz respeito a ela mesma.

Numa união maravilhosa com o espírito de humildade e de sacrifício de seu divino Filho, ela esconde todas as suas grandezas, encobre toda a sua glória, para rebaixar-se e sujeitar-se às mais humilhantes prescrições!

Ela, que outrora, como simples menina, desconhecida por si mesma, como o era pelo mundo, ciosa de conservar o seu voto de castidade, havia tido a audácia de discutir com o Arcanjo, que lhe anunciara sua elevação à dignidade de Mãe de Deus dizendo que não conhecia varão – virum non cognosco! (Lucas I. 3.4) esta mesma virgem feita Mãe de Deus, da altura da divina maternidade, como da altura desta virgindade, desce, abaixa-se até parecer perante os homens, despojada desta dupla glória .

Oh! sim, é uma virtude quase incompreensível ! É a glória das glórias a da humildade.

Neste simples ato vulgar, comum, aos olhos do mundo, Maria eleva-se a uma altura, que desconcerta o espírito humano. Recolhamos apenas este contraste singular: Maria professa a virgindade ao ponto de sacrificar-lhe a honra e tornar-se Mãe de Deus; pratica a humildade a ponto de  sacrificar-lhe a honra desta mesma virgindade. Deste modo, a Virgem Santa sai desta purificação, de que não precisava. mais pura, mais virgem, mais digna Mãe de Deus, porque praticou o que a humildade tem de mais elevado e de mais profundo.

3 – CONCLUSÃO

Procuremos entrar nas disposições de Maria Santíssima neste duplo mistério da festa: a apresentação de Jesus e a sua própria purificação.

Vendo nela obediência tão exata a uma lei, que não lhe dizia respeito, aprendamos deste sublime modelo, a obedecer pontualmente a todas as práticas, que nos são prescritas pela lei divina, eclesiástica ou deveres de estado. Não podemos subtrair-nos sem pecado. A lei é feita para todos.

As prerrogativas da dignidade, da posição, do nascimento, não dão o direito de dispensar-se dela.

Qual criatura foi maior e mais elevada do que Maria? Entretanto ela obedece a uma lei, que não a obrigava. E nós pobres pecadores, queríamos dispensar-nos de leis feitas para nós, necessárias a nossa salvação. Como Jesus, ofereçamo-nos a Deus, pelas mãos de Maria, para cumprir a sua vontade!


Fonte: O Evangelho das Festas Litúrgicas e dos Santos mais populares. 2ª Edição: Manhumirim: O Lutador, 1952. pp. 96-99. (saiba mais sobre a obra e as postagens)