Classificação útil para a direção espiritual

A pedido do Prof. Carlos Ribeiro, publicamos algumas orientações aos fiéis em relação à última formação de fiéis (A alma do apostolado).


Classificação útil para a direção espiritual

Cada alma é um mundo à parte, com os seus matizes próprios. Entretanto, os cristãos podem ser classificados em vários grupos. Por nos parecer útil, sobretudo para os diretores espirituais, damos a seguir esta classificação, adotando como pedra de toque, de um lado, o pecado ou a imperfeição e, de outro, a oração.

1. Empedernimento

Pecado mortal. – Estagnação neste pecado, por ignorância, ou conscientemente. Abafamento ou ausência de remorsos.
Oração. – Supressão voluntária de qualquer recurso a Deus.

2. Verniz cristão

Pecado mortal. – Considerado como mal irrelevante e facilmente perdoado; a alma comete-o, sem resistir às ocasiões e tentações. Confissões quase sem contrição.
Oração. – Maquinal, distraída e ditada, frequentemente, por interesses temporais. Concentrações raras e superficiais.

3. Piedade medíocre

Pecado mortal. – Fracamente combatido. Fuga pouco frequente das ocasiões, mas arrependimento sério e confissões sinceras.
Pecado venial. – Pacto com este pecado, considerado como mal insignificante; logo, tibieza da vontade. Nada faz para o descobrir, prevenir e arrancar.
Oração. – De longe a longe, bem feita. Veleidades passageiras de fervor.

4. Piedade intermitente

Pecado mortal. – Lealmente combatido, fuga habitual das ocasiões. Profundo arrependimento. Penitências para reparar.
Pecado venial. – Às vezes, deliberado. Combate fraco. Pesar superficial. Exame particular sem objeto preciso, sem espírito de continuidade.
Oração. – Resolução insuficiente de fidelidade à meditação, que é abandonada se aparece a aridez ou uma ocupação importante.

5. Piedade perseverante

Pecado mortal. – Nunca. Ou pecado repentino, e muitas vezes duvidoso, mas acompanhado sempre de ardente compunção e penitência.
Pecado venial. – Vigilância para evitá-lo e combatê-lo. Raras vezes deliberado. Vivamente sentido, mas pouco reparado. Fidelidade ao exame particular, visando apenas as fugas dos pecados veniais.
Imperfeições. – A alma evita descobri-las para não ter de as combater, ou arranja desculpas com facilidade. A renúncia às imperfeições é admirada, desejada até, mas pouco praticada.
Oração. – Fidelidade constante à meditação, muitas vezes afetiva. Alternância de consolações e aridezes suportadas com mágoa.

6. Fervor

Pecado venial. – Nunca deliberado. Às vezes, de surpresa ou sem advertência. Vivamente sentido e seriamente reparado.
Imperfeições. – Reprovadas, vigiadas e combatidas com energia, para agradar a Deus. Às vezes, talvez, aceites, mas logo rejeitadas. Frequentes atos de renúncia. Exame particular visando o aperfeiçoamento de uma virtude.
Oração. – Oração mental que se prolonga com gosto. Meditação, sobretudo afetiva e de simplicidade. Alternâncias entre vivas consolações e provações cruciantes.

7. Perfeição relativa

Imperfeições. – Prevenidas com toda a energia e muito amor. Sobrevêm apenas com semi-advertência.
Oração. – Vida habitual de oração, mesmo nas ocupações exteriores. Sede de renúncia, de aniquilamento, de desapego, de amor divino. Fome da Eucaristia e desejo ardente do Céu. Graças de oração infusa, em vários graus. Muitas vezes, purificações passivas.

8. Heroicidade

Imperfeições. – Só no primeiro movimento.
Oração. – Dons sobrenaturais de contemplação, às vezes acompanhados de fenômenos extraordinários. Purificações passivas acentuadas. Humildade levada até ao esquecimento de si mesmo. Preferência dada aos padecimentos sobre as alegrias.

9. Santidade consumada

Imperfeições. – Apenas aparentes.
Oração. – Quase sempre, união transformante. Matrimônio espiritual ou místico. Purificações de amor. Sede ardente de sofrimentos e humilhações.


– D. Jean-Baptiste Chautard, em A Alma de Todo o Apostolado, livro de cabeceira do Papa São Pio X, apresentado em nossa última formação.

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