Artigo escrito por San Miguel Arcángel, traduzido por Aiton Vieira.
A palavra “Novíssimos” (do latim novíssimus — último, posterior) ou ultimidades, significa as últimas coisas que a todos nos aguardam, e são quatro: Morte, Juízo, Inferno e Glória.
A meditação séria e frequente destas quatro verdades é a melhor maneira para evitar o pecado como diz o Espírito Santo: Em todas tuas ações lembra-te de teus novíssimos, e jamais pecarás (Ecle; VII, 40).
Assim como a ameaça do castigo aparta a criança de suas travessuras; do mesmo modo o temor dos castigos da outra vida aparta muitos homens do caminho da perdição.
Se confirma com o exemplo de inumeráveis santos, quem se converteram ou se aperfeiçoaram com o pensamento da morte ou dos outros Novíssimos.
A morte. – Sua natureza.
A morte é a separação da alma e do corpo.
A união da alma com o corpo, ao qual anima e comunica o movimento e a ação, constitui a vida; ao romper-se esta união, o homem deixa de viver, morreu.
A morte é para o corpo a desaparição absoluta da sensibilidade: o corpo já não vê nada, não ouve nada, não sente nada. É o estado mais humilhante e mais próximo ao nada porquanto o corpo se descompõe e lentamente se desfaz, é devorado pelos vermes e se reduz a pó, cumprindo-se assim as palavras de Deus a Adão prevaricador: “Tu és pó e ao pó tornarás” (Gen; III, 19).
Pelo que toca à alma, a morte a desata do corpo, de onde sai como de um cárcere e subitamente se encontra na eternidade.
Causas da morte.
As causas próximas da morte são as enfermidades, os acidentes, etc…, cujo estudo interessa à medicina. A causa remota da morte é o pecado.
O homem não havia sido formado para morrer; Deus, ao criá-lo, havia animado seu corpo com um sopro de imortalidade; mas também lhe disse ao proibir-lhe comer da árvore da ciência do bem e do mal: “No dia que dele comeres, sem dúvida morrerás” (Gen; II, 17). Portanto Adão, ao comer essa fruta assinou para si e para todos seus descendentes; a sentença de morte.
Lições da morte.
Há quatro certezas ou coisas certas sobre a morte; e três incertezas ou coisas incertas.
Quatro certezas:
1) A morte é segura. — Todos temos de morrer. Jamais houve homem sensato que tenha crido, que não devesse morrer[1].
Tudo o que nos rodeia nos fala de morte: as folhas que caem das árvores, as flores que se murcham, o sol que aparece e logo se oculta, o rio que corre ao mar, a lenha que é reduzida a cinzas, a fumaça que se dissipa.
Moral: Se a morte é segura e ninguém se livra dela, é lógico que nos consideremos como viajantes nesta terra, na que estamos de passagem. Não imitemos àqueles que vivem como se nunca devessem morrer, que só pensam em acumular riquezas e bem-estar para a vida presente sem preocupar-se da futura.
2) A morte virá logo. — Diz a Escritura: “Lembra-te que a morte não tarda a vir” (Ecle; XIV, 12); e em outra passagem: “Virá cedo e não tardará”.
“Breves são os dias (ou a vida) do homem”, diz Jó (XIV, 5) e correm mais velozmente que um pôr do sol (IX, 25).
Moral: Se os dias de nossa vida são curtos, temos de aproveitá-los todos e bem, desde cedo.
3) A morte vem uma só vez. — Diz São Paulo: “Está decretado que o homem morra uma só vez” (Heb; IX, 27).
Moral: Não é possível remediar as consequências de uma má morte; por conseguinte há que fazer todo o possível para morrer bem, na graça de Deus, a única vez que se morre.
4) A morte despoja de tudo: de amigos, parentes, riquezas, dinheiros, casas, fábricas… o enfermo ao fazer testamento só usa a palavra “deixo”: deixo isto a… deixo o outro a… deixo… deixo.
Moral: É portanto, uma loucura, apaixonar-se desordenadamente pelos bens da terra, que algum dia haverá de deixar; como da mesma forma adornar com excesso este corpo que logo será pasto de vermes.
Três incertezas ou coisas incertas têm a morte:
1) Quando virá? — Hoje, amanhã, daqui a um ou vários anos. A pouca idade, a boa saúde não são razões suficientes para supor que a morte está longe.
2) Onde virá? — Na cama, na classe, no trabalho, no teatro, durante um passeio, uma viagem… não o sabemos. A morte nos segue de perto, mas jamais nos diz onde nos alcançará.
3) Como virá? — Nada mais incerto; será repentina? Será de enfermidade, de um acidente: um choque, uma bomba, um assalto…?
Moral: Deus dispôs estas incertezas para obrigar-nos a estar sempre preparados à morte. Diz Jesus: “Tendes isto por certo, que se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, estaria certamente velando para não deixar entrar em sua casa. Assim vós estai sempre prevenidos porque a hora que menos pensais, virá o Filho do homem” (S. Lucas, XII, 39-40).
“Ditosos aqueles servos aos quais o senhor ao vir encontra velando”; ou seja, preparados para prestar-lhe conta de sua administração (Lc., id., 37).
Estar preparados quer dizer viver habitualmente na graça de Deus, levar vida cristã em conformidade com os divinos preceitos e as obrigações do próprio estado.
Andam muito enganados e muito expostos a condenar-se eternamente os que vivem mal com a esperança de ajeitar tudo à hora da morte.
“LA RELIGIÓN EXPLICADA” (Ano 1953)
Fonte: https://adelantelafe.com/los-novisimos-la-morte-2/
NOTAS:
[1] Aqui caberia uma observação sobre uma questão ainda hoje em aberto. Não a especularemos devido não ser este o propósito, nos limitando somente com citar a São Paulo, que diz: “Eis que aqui vos digo um mistério: Nem todos morreremos, mas todos seremos transformados em um momento, num abrir e fechar de olhos… porque… os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Cor XV, 51s). Tradução nossa de La Sagrada Biblia, de Mons. Dr. Juan Straubinger. (ndt)
